1.3.06

Pela culatra

Ainda estou na terça-feira gorda, mas vamos falar de cinzas.

Depois de assistir ao inacreditável comercial da camisinha nos intervalos do desfile das escolas de samba, fiquei me perguntando se jamais houve pior propaganda veiculada na TV brasileira.

(Sim, companheiros, meu carnaval foi assim lúgubre – a gripe atacou este folião, que, entre calafrios e coriza, viu seus pesadelos se materializando na TV aberta)

Em primeiro lugar: por que diabos a Globo não transmite os desfiles com tecla SAP? Ninguém merece aqueles comentários, por Momo! Tive que desencavar uns CDs (de jazz, hahaha) pra poder neutralizar o áudio da transmissão. Para aqueles que tinham mais o que fazer, teve até Ivo "Boquete" Meirelles chorando ao ver a Mangueira entrar.

Fiquei entre a cobertura da Rede TV (by Nelson Rubens, Monique Evans e Jacaré) e do camarote da Brahma by SBT & Adriane Galisteu – com o tal camarote completamente esvaziado, porque os "artistas" preferiram desfilar no da Nova Schin (patrocinadora do desfile na Globo). Nos intervalos, dava uma conferida nos canais de notícia para descobrir que um polícia assassinou o Rei Momo lá no Rio Grande do Sul.

(Perdão – ainda estou meio lesado, não sei o que foi folia, delírio, notícia ou realidade)

Pois bem, no clima do "acabou nosso carnaval...", dou uma pescada aqui na Internet e descubro que, mesmo depois do assassinato, o espírito dionisíaco continua presente. Da Reuters:

"Para Bruno Barreto, Carnaval de Salvador evoluiu como o cinema
O cineasta Bruno Barreto voltou ao Carnaval de Salvador depois de 30 anos e comparou o passado e o presente da festa com o próprio desenvolvimento do processo cinematográfico.
'Hoje o Carnaval é em cinemascope, dolby stereo. Antes, era em tela quadrada, em mono', disse o diretor na noite de sábado à Reuters, depois de descer do trio elétrico Expresso 2222, onde Daniela Mercury o homenageou."

Cinemascope, dolby, abadás de 3.500 reais e 90% da galera na pipoca. Perfeito.

Mas eu falava do comercial de camisinha.

Olha, nunca pensei, sinceramente, que o comercial de Dona Zica para um cemitério aqui do Rio pudesse ser superado em termos de mau gosto e espírito de porco. Mas eis que surge um perfeito downer (em vários sentidos), um legítimo produto de uma mente verdadeiramente pervertida: alguém teve a brilhante idéia de botar o Luis Fernando Guimarães improvisando para alertar o povo da importância de usar o preservativo neste carnaval.

Lamento informar, de saída, que nossas estatísticas envolvendo prevenção de DSTs e gravidez adolescente correm o risco de atingir índices alarmantes. Pensando bem, talvez a coisa tenha surtido o efeito desejado.

Pensem bem: o casal chega no motel, cheio de tesão; o sujeito, cheio de Nova Schin na cabeça, vê a Ivete Sangalo se despindo para ele (depois de algumas Novas Schins, até minha bisavó fica a cara da Ivete Sangalo); daí ele tira a roupa, Jamelão na mão; a menina, preocupada, saca a camisinha do bolso; o pobre diabo, ao ver a garota sacolejar o pacote, lembra-se de imediato do maldito comercial:



"Vai acampar? Vai armar a barraca! Olha a camisinha aí!"

Mas não há Viagra no mundo que faça a Mangueira entrar!!!