26.9.07

A Whole Lotta Love

Tenho que admitir: desde o dia em que o autor anunciou em seu blog a chegada do caminhão que trazia uma enorme remessa de um certo livro à sua casa, eu vinha contando os dias, as horas, para a chegada de minha cópia. Antecipava o momento e sonhava com cada detalhe: eu chegava do trabalho e o porteiro vinha me avisar desta encomenda que havia chegado para mim; logo em seguida eu me preparava para executar o ritual de abrir a caixa, lentamente, controlando a ansiedade; colocava então um certo DVD pra rolar enquanto pegava os apetrechos e instrumentos necessários para abrir o pacote delicadamente; abria uma garrafa de vinho toda especial, sentava à mesa e presto!

É evidente que nada disso aconteceu. Passara a noite de sexta-feira em branco assistindo curtas para a seleção da velha e boa Curta Cinema e, depois de umas três horas de sono, não mais, tocou o interfone. Era uma encomenda – que eu, descrente, imaginava ser uma outra qualquer. Minha doce companheira desceu à portaria enquanto eu lavava o rosto e tentava me manter acordado para encarar a longa e exaustiva reunião anual do comitê de seleção do festival de curtas.

De volta ao apartamento, ela olhou para o que restava de mim com malícia e soltou: “vou passar o dia lendo o livro!”

Desnecessário dizer que acordei imediatamente. Não tive saída. Tive que esquecer ritual, vinho e tudo mais, para saciar nossa curiosidade antes de partir para a reunião.

Nem me lembro de como fiz, mas abri o pacote e lá estava.

Bem, todo tipo de elogio já foi escrito por aí e não sou eu quem vai se dar o trabalho de descolar um inédito. Francamente, o esforço seria completamente desnecessário.

São cinco quilos de Mario Bava, companheiros. Cinco quilos.

Não tem como jogar na estante, não tem como enfiar debaixo da cama, não tem jeito. O bicho fica ali, no meio do caminho, fazendo você lamentar cada minuto perdido, cada minuto que você não pode gastar com sua leitura. Você não pode levá-lo no ônibus para dar uma folheada; você não pode levá-lo ao banheiro, você não pode levá-lo para a cama. É um livro que te obriga a parar tudo para lhe dar atenção exclusiva. E isso é o mínimo que se pode fazer por ele.

Trata-se de um dos mais lindos objetos que possuo, ou que tenho a ilusão de possuir (porque são eles que me possuem, na realidade).

Estou folheando o livro em meu tempo livre há três dias – e ainda não cheguei à página 700 das quase 1.200. Eu disse “folheando”. Mas não tenho pressa. Espero levar uns 32 anos para ler MARIO BAVA – ALL THE COLORS OF THE DARK até o fim. E saborear cada minuto a seu lado – acompanhado de um bom vinho.