14.11.07

#9 - SAM RAIMI

O cinema de horror - e o cinema de gênero, de um modo geral - vive de ciclos. Assim, em 1999, A bruxa de Blair rendeu os tubos, partindo menos de uma sacada genial que da revitalização de um mito: aquele do filme ultra-independente, de baixíssimo orçamento, que chama a atenção de um ou outro distribuidor disposto a investir uma pequena soma num momento para nadar em gordas bilheterias logo depois.

A história não é nova, evidentemente. Pode-se dizer que o ciclo foi inaugurado em 1968, com a obra-prima de George Romero, A noite dos mortos-vivos, e renovado pelo menos uma dúzia de vezes, com filmes diversos. O último, parece, foi Jogos mortais - que, embora irregular, contava com uma premissa excepcional - inspirada nos puzzles internéticos como os de Toshimitsu Takagi. O filme acabou rendendo uma série de respeito, ao contrário do projeto Blair Witch, e deu origem à onda do torture porn, que parece ter chegado ao fim com o fracasso comercial de Captivity e O albergue - Parte II (que é um bom filme, aliás. Eli Roth não vai aparecer nesta lista porque seu filme de estréia - que homenageia nosso filme de hoje - não é nada bom).

Fato é que existem filmes que testam e corroboram o mito; e existem aqueles que colaboraram diretamente para sua formação. É o caso de The Evil Dead, agraciado com os títulos "A morte do demônio" e "Uma noite alucinante 2" pelos tradutores tupiniquins, esses gênios da raça. (Nossos irmãos portugueses se saíram um pouquinho melhor com "A noite dos mortos vivos", ainda que... ei, peraí!)

Oito entre dez estudantes (sérios) de cinema esperam com seu primeiro filme: (1) ganhar um prêmio em Cannes (opa!) e/ou (2) migrar pra Hollywood com despesas pagas, à guisa de Orson Welles, tirando onda de petit génie. A inspiração tá aqui:





Parece fácil, e até hoje rende livro, curso, toda uma indústria. Convence os pais, os parentes, os vizinhos, etc, a botar o suado tutu num filme de terror com sangue e tripas à vontade - não tem erro, certo?

Certo se você é um cara como o Sam Raimi. Naquela época, em tempos imemoriais, uma boa sacada parecia não ser o bastante - era preciso ter visão, criatividade, invenção, talento. Sorte? Um pouco.

Talvez pareça um tanto ingênuo nos dias de hoje colocar uma câmera sobre uma longa tábua de madeira e disparar em desabalada carreira pela floresta, mas em 1980, quando Os caçadores da arca perdida e Tron eram os parâmetros em efeitos especiais, não pareceu. Sempre me lembro, desde que o vi pela primeira vez, de The Evil Dead assim: um filme meio mambembe, repleto de humor negro e gore, referências a Lovecraft, capricho artesanal e um herói improvável.

O herói improvável é nosso amiguinho Sam Raimi, que virou diretor de imensos abacaxis em Hollywood. Deste partimos pra outro de carreira mais modesta, mas que teve uma estréia de grande impacto. Vou tentar não demorar tanto nesse, ok?