"Razorback2" é um nome bastante conhecido dos usuários do
software eMule, ou de qualquer outro cliente da rede eDonkey 2000. Trata-se do servidor mais popular da rede de P2P, que reúne uma comunidade de cerca de 3,5 milhões de usuários.
Ou melhor: tratava-se. Às 10h da manhã desta terça-feira, 21/02, a polícia federal belga, em ação articulada com autoridades da Suíça, encerraram as atividades do Razorback2 (a associação tem sede no último, mas o coração do sistema está instalado na Bélgica) e prenderam dois de seus administradores. Um servidor não é nada mais que um índice dos locais que abrigam arquivos (muitos deles cópias ilegais de filmes) trocados pelos usuários da rede eMule/eDonkey – ao contrário de sites de indexação de arquivos, como o ShareReactor. O Razorback2 em si não indexava ou disponibilizava o conteúdo para
download – apenas a localização.
A ilegalidade do tipo de operação efetuada pelo Razorback2 é questionável, mas isso não impediu a ação das autoridades. Na verdade, o Razorback tentava conciliar legalidade e P2P, fornecendo estatísticas para empresas de
marketing e difundindo o
download pago, legal, para os fornecedores de conteúdo. O principal administrador do grupo havia chegado a anunciar o desejo de colaborar com o banimento dos usuários que fizessem
downloads ilegais, uma vez denunciados pelos titulares dos direitos autorais – mas não obteve nenhuma resposta.
A MPA expressou sua alegria por meio de um comunicado para a imprensa, em que comemorava o fim do "infame" servidor. Com a palavra, Don Glickman, presidente da associação: "Esta é uma grande vitória em nossa luta para cortar o fornecimento de materiais ilegais que circulam na Internet através das redes
peer to peer. Cortando o tráfico ilegal de obras facilitado pelo Razorback2, estamos impedindo outras redes ilegais de sua habilidade de fornecê-las a piratas da Internet, o que é um passo positivo em nosso esforço internacional de combate à pirataria".
A discussão, naturalmente, tem a ver com a própria natureza do P2P, e é complexa o bastante para suscitar ao menos mais alguns anos de pendengas judiciais ao redor do mundo. Mas a posição da MPA é bem clara, e extremamente agressiva.
O
release afirma que os administradores do Razorback2 tinham "óbvios motivos financeiros". "Além de coletar 'doações' de usuários, sua renda também era gerada por meio da venda de publicidade em seu
site, normalmente promovendo
websites pornográficos. Adicionalmente, a disponibilidade de conteúdo ofensivo será inibida [em razão do fechamento do servidor]. Os operadores deste
site do eDonkey optaram por não exercer controle sobre os arquivos trocados pelos usuários, incluindo aqueles que incluem pornografia infantil, instruções para a manufatura de bombas e videos de treinamento terrorista". John G. Malcolm, VP executivo e diretor anti-pirataria internacional afirma: "era uma ameaça à sociedade".
O fato de que o Razorback fornecia ajuda logística preciosa à distribuição legal de conteúdo livre em geral, como
freewares e
sharewares, além de difusão de música e eBooks isentos de direitos, não foi considerado no comunicado.
Mas ao contrário do que o
release da MPA quer fazer crer, o desaparecimento do Razorback2 não altera absolutamente nada no hábito de milhões de usuários do eMule, que contam já há alguns meses com um sistema completamente descentralizado de indexação – o Kademilia ou simplesmente "Kad".
Alguns falsos servidores que "imitam" o Razorback2, na verdade comunidades criadas por entidades de defesa do
copyright, permanecem ativas, com a finalidade de reconhecer e deter os "lançadores" de arquivos e diminuir o fluxo de trocas de cópias ilegais.