22.11.06

The Long Goodbye




Robert Altman (1944 - 2006)

17.11.06

Borat - uma provinha

16.11.06

Proclamação

Feriado devagar, aos poucos... Passeio pela feira do livro no Largo do Machado é um dos raros lugares do mundo onde se pode levar 50 pilas e trazer para casa mais de 5 livros (mais de 50 até, se você tiver saco de pesquisar e barganhar). É cedo para fechar balanço – ainda temos o sábado, dia em que tudo pode acontecer –, mas já deu pra arrumar volumes fundamentais sobre Zanuck, Huston, Welles e Brakhage; alpem de Ellroy, Greene (carne-de-vaca nas banquinhas de $1 real), Ed McBain, Vidal, e mais uns outros.

Galeto no fim da tarde, programa do fim de semana costurado na Macedônia. 5 filés.

Primeiro as revisões: Out for Justice, clássico star-vehicle de Steven Seagal conduzido pelo grande John Flynn. Visto na madrugada da Globo umas tantas vezes, o filme gritava por uma revisão, para horror de Marina – que passou uns 10 minutos gargalhando do nosso barrigudo favorito até ser sugada pela atmosfera magistral de Flynn. Não sei se ela se convenceu de todo, mas depois de alguns dentes arrancados e membros mutilados, as risadas ficaram mais esparsas e ela assistia atenta à coisa. Não chegou a vibrar durante a matança final, nem mesmo quando Seagal explode a perna de um coitado, quando mata um outro com um chute no saco ou enfia um saca-rolha na testa do William Forsythe.

Faz parte.

Depois, Duel, em ótima edição digital, com som remasterizado em DTS e imagem impecável. Biscoito fino, mesmo.

Todos os temas do Spielberg já apareciam ali, é impressionante. Olhava praquele caminhão e me pegava lembrando o tempo todo de Tubarão, Contatos imediatos, Guerra dos mundos, etc.
Com a jogada dos mestres loucos ainda pedindo uma resolução na minha cabeça, o filme foi bastante revelador. Fato é que toda essa geração começou fazendo grandes filmes – primais, inteligentes, sofisticados, brilhantes. Foram ampliando os temas, refinando a técnica, mas a fina flor, autêntica de verdade, tava ali nos anos 70. Nem tenho como ser saudosista, porque sou fruto dos 80 – década que, ademais, pertence ao Coppola, que incorporou a crise na obra antes de todo mundo.

E de repente bateu a maior vontade de rever The Departed. Só pelo Nicholson fazendo careta de ratinho. Propus a Marina que a gente assistisse de novo e saísse um pouquinho antes do Nicholson morrer no filme, mas não sei se vai rolar.

15.11.06

News at 11



Hoje é o último dia para conferir e votar nos seis vídeos do The Great Sketch Experiment, projeto que a turma do site JibJab colocou no ar já tem um tempinho.

Tudo explicadinho lá, então nem vale o esforço. Mas só pra constar, vale dizer que os vídeos foram produzidos a partir de um concurso de roteiros temáticos e curtíssimos, escritos por grupos cômicos ou stand-up comedians.

Se serve de incentivo, também vale dizer que os seis vídeos foram dirigidos pelo John Landis, aquele mesmo que fez os melhores filmes do Eddie Murphy, John Belushi, ZAZ e Chevy Chase. Landis, aliás, tem uma definição maravilhosa sobre o que seria escrever sobre cinema: "algo como tentar expressar em palavras o ato sexual".

O conjunto é bastante irregular, mas rende algumas boas risadas – muito valiosas em tempos de comédias pouco inspiradas. No mais, a experiência não toma mais que uns vinte minutos. Os "extras", liberados pra quem se registrar (é de grátis), têm lá seu interesse.

O Landis é antes de tudo uma figuraça, e é muito bom ver que ele busca atividade nos últimos refúgios do bom cinema: TV e internet. Falar nisso, o episódio dele para a segunda temporada de Masters of Horror já foi para a pilha de prioridades. Os melhores estão sendo exibidos nesse momento no Festival de Turim (outro refúgio), e os pobres coitados que estão curtindo o inverno do Piemonte têm que escolher entre isso e retrospectivas dedicadas a Chabrol e Aldrich.

10.11.06

Ei, tem uma colina me olhando!


É, até o Pluto teve que arregalar os seus para esse remake de Quadrilha de sádicos dirigido pelo francês Alexandre Aja – de Haute tension, cujo DVD já foi recuperado aqui em meio à hecatombe e voou para o topo da minha pilha de prioridades. Uma grande pilha, diga-se de passagem.

Verdade seja dita, o original do Wes Craven era tosco e chato – os fãs vão ter que desculpar a sinceridade, mas tá aí um filme que envelheceu mal. Digo que envelheceu porque foi um dos primeiros filmes de horror que vi na vida (depois de Bambi), causando um impacto terrível na minha cabecinha, onde os mutantes ripongas se instalaram e ficaram aparecendo de vez em quando em meus pesadelos infantis. Na revisão, porém, já barbado, depois de apanhado o gosto pela coisa e renovados os monstros, o filme empalideceu.

Se digo chato, é porque não preserva o impacto da estréia de Craven. Muito pelo contrário: quando se assiste a Last House on the Left, você já sabe logo de cara que pode-se esperar qualquer coisa do filme (qualquer coisa mesmo!), enquanto em Hills você já sabe logo de cara o que esperar. É um filme que não esconde em momento algum que encampa uma tese, de um modo até grosseiro. E se digo tosco, bem, os dois supracitados são toscos, mas o primeiro é tão selvagem que sua precariedade é facilmente eclipsada pela engenhosidade (e cara-de-pau) de sua construção. Hills, por sua vez, acumula clima doentio, simbologia algo precária, discurso, mas tem um pecado gravíssimo: é pura e simplesmente mal encenado.

Na refilmagem de Aja, porém, sobram talento e estilo. É uma diferença importante, porque, se o francês também força a barra no discurso (coisa que é do gênero, afinal), há no fim uma sensação de quem assistiu a um bom filme. E isso faz toda a diferença.

Não há nada de brilhante na sacada que sustenta a refilmagem – toda a baboseira dos testes atômicos, etc –, mas a realização é tão boa que a coisa se segura sem fazer força. O que mais impressiona, porém, é que o sujeito consegue respeitar o material original sem entrar em nóias de "reinvenção" e imprimir de modo tão firme seu estilo, que tudo parece novinho em folha. Não sabemos o que esperar, ficamos a mercê.

Ao contrário dos colegas John Carpenter & Debra Hill, Craven conseguiu emplacar, como produtor, uma refilmagem muito mais que decente: um filme que supera de longe o original.

Resta agora esperar o próximo passo do jovem Aja. O meu já sei qual vai ser: assistir Haute tension!

7.11.06

One Five

The obvious question is: Why are we doing this? And the only answer is that it just seems like the right thing to do.

Over the last ten years Criterion has gotten a little bigger and a lot better. We’ve only grown by about twenty people, but as a result we can do so much that we could never do before. Today we’re an all-digital shop, doing high-definition restoration in-house, and pairing the best group of producers, editors, and designers we’ve ever had with some of the top writers, scholars, and artists in the world. When I started we could never have produced a disc set as complicated as, say, The Battle of Algiers. Just compare the old Seven Samurai to the new one to see what I’m talking about. It’s not that I want to go back. But I do want to make sure that we don’t lose track of the fact that we’re a small company doing something we believe in, and that we’re lucky enough to have an audience of people who care. That’s who this blog is for.

http://www.criterionco.com/blog/index.html

Os mestres loucos

Coincidência, talvez, que os últimos dois filmes que assisti no cinema tenham sido os de Brian DePalma e Martin Scorsese, outrora referências absolutas do que sempre julguei grande cinema. Coincidência feliz porém, porque, apesar de menores, são filmes que se complementam de maneiras inesperadas, jogando luz um sobre o outro.

É preciso confessar que bateu um certo mal-estar logo ao término das sessões. Fica difícil entender o porque destes dois mestres, a essa altura do campeonato, terem de interpretar esse papel ingrato de buscar muleta em material requentado e, no processo, agregarem suas assinaturas na marquise – "agregando valor" (a um bom preço, claro). São dois casos típicos de one for them.

Estranho se permitir ficar fazendo conjeturas acerca das causas de gesto tal. Vindos de reflexões engajadas sobre o papel do autor na indústria (Femme Fatale e Gangues de Nova York – pulemos O aviador), em que pesava a postura radical de quem põe a própria obra em jogo, os dois velhinhos sacaram a carta do superautor, jogando de um lado da balança uma bagagem pesada demais – com tributos a Lang e reverência algo embotada ao filme noir –, desequilibrando o jogo a favor da assinatura deles, sem qualquer cerimônia. Não era o que os projetos pediam, naturalmente, e o resultado dessa queda de braço se revela, em alguns momentos, algo de bizarro.

Mas jogar com a própria obra pressupõe uma consciência altiva, um desprendimento, que pode ser confundido com impostura no mais das vezes. Há nestes dois ex-coroinhas um gosto legítimo pela subversão que vem de longe, dos tempos em que se divertiam peidando na igreja. O fato de terem iniciado suas carreiras comungando com pastores pervertidos (como Roger Corman e Sam Arkoff), em templos cheios de ratos e cheirando a mofo, deixa lá suas seqüelas, que podem ressurgir das maneiras mais incômodas.

E aqui o que se vê é uma vontade louca de afirmar, em cada corte grosseiro, em cada momento de descontrole, em cada solução aparentemente preguiçosa de mise-en-scéne; o que se vê, ou ainda o que se ouve, é o ruído estrepitoso de um trem descarrilhado que caminha a todo vapor pra cima da gente. Um elemento de caos que se impõe sobre um falso movimento revisionista, uma tentativa de exegese (enganosa) de uma geração que, em tempo de derrota, tenta redescobrir seu papel em um mundo hostil.

É um gesto curioso, porque se opõe de maneira tão escancarada ao neo-romantismo de um Michael Mann, de um Shyamalan, ou até de um Spielberg... Dália negra e The Departed (pro diabo com o título brasileiro!) se somam a filmes como Terra dos mortos, de Romero, e Dança dos mortos, do Hooper, numa tentativa de buscar as matrizes do discurso e de se engajar mais uma vez – melancólica vez – na luta pela conquista de um espaço para falar abertamente, sem constrangimento, sem vergonha.

Nas últimas obras destes dois mestres, vemos surgir um verdadeiro bestiário norte-americano, um território simbólico em que a extrema violência prevalece sobre toda e qualquer razão, e onde os heróis assumem a condição de defuntos, mortos-vivos, viciados, justiceiros, dementes, seres rastejantes.

Em um cenário de crise moral aguda e generalizada, eles vêm nos resgatar quando reivindicam para si essa postura swiftiana – tão irlandesa, tão deliciosamente demente.

5.11.06

Seres rastejantes


A estréia de James Gunn na direção de longa-metragem é algo a se celebrar.

Ok, o sujeito já teve sua cota de cagadas na vida (alguém aí disposto a defender Scooby Doo 1 e 2?), mas sempre há uma chance para a redenção, mesmo pra alguém que teve a cara de pau de reescrever o roteiro de Dawn of the Dead.

Gunn tinha também sua cota de bons serviços prestados ao cinema, tendo estreado na função ao escrever o roteiro de Tromeo & Juliet, chez Troma/Lloyd Kaufman. Mas agora, como diretor, as coisas começam a entrar em perspectiva, promovendo o sujeito à categoria suspeita de promessa a ser confirmada.

Slither começa mostrando os dentes: um ataque escancarado, sem medo do grotesco (como cabe a um aluno de Kaufman), à América caipira, belicosa, e suas personagens macabras – um ricaço repulsivo; sua esposa interesseira, subserviente e frígida; autoridades débeis mentais; tristes mulheres oferecidas e famílias bizarras.

Que essas personagens encontrem seu destino chupando lesmas alienígenas, ou ainda que se realizem em conceitos de maquiagem absurdos e ícones do cinema subversivo (zumbis de Romero, Gregg Henry e Michael Rooker), é sinal de cabeça pensante – no cinema ianque, sempre algo a se celebrar.

Um ranço de nostalgia dos anos 80 não chega a deixar gosto amargo. Afinal, a referência aqui é um Joe Dante de Gremlins, um Tobe Hooper de Massacre da Serra Elétrica 2, um Romero de Dawn of the Dead (agora sim). Alto nível. É filme que se inscreve nessa moldura crítica, cínica, grosseira, de um olhar cáustico sobre as aflições da sociedade norte-americana. A começar pela referência à fonte (inesgotável nas ficções do gênero) do Lovecraft de A cor que caiu do céu.

Algum cuidado de produção, atenção ao ritmo (ainda que algo caótico e irregular às vezes), um gosto legítimo por tudo aquilo que faz uma boa matinê (até o dublê de Brandan Fraser funciona): uma bela receita, com ingredientes na medida para uma boa tarde de sábado chuvosa.

O DVD traz alguns extras que contribuem para completar a diversão, como o diário de Lloyd Kaufman e um gag reel.